Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : O bonde (X) - Joaquim Távora Hoje Av. Visconde do Rio Branco - antiga Estrada de Messejana
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terça-feira, 22 de junho de 2010

O bonde (X) - Joaquim Távora Hoje Av. Visconde do Rio Branco - antiga Estrada de Messejana


Bondes perto do Hotel Excelsior, início dos anos 30

Era a segunda mais extensa linha de bonde a da Avenida do Joaquim Távora, também conhecida como estrada ou calçamento de Messejana, hoje Avenida Visconde do Rio Branco, perdendo apenas para a linha do Alagadiço.
Com rigor ainda se pode observar esse logradouro, apesar de ser quase em linha reta, tem várias denominações as ruas que se sequenciam. Tem início na Av. Alberto Nepomuceno seguindo pela Rua Conde D’Eu, prossegue pela Rua Sena Madureira, atingindo a Avenida Visconde do Rio Branco - (antiga Joaquim Távora, Calçamento ou Estrada de Messejana), numa direção quase reta cuja maior extensão continua pelo Alto da Balança (Ministério da Aeronáutica - Base Aérea de Fortaleza - Av. Aerolândia). Ah! E a Lagoa de Messejana, a admirar a linda estátua de Iracema que será construída a se banhar de cuia naquelas águas lacustres; e sentir de perto a beleza da mansão Castelo, da nossa tão querida D. Lúcia Dummar, a lembrar e recitar os poemas de seu pai, o escritor Demócrito Rocha.
Isso é apenas para avivar a memória dos habitantes desta linda Capital e termos uma ideia deste bairro que se interligava a outros.
Não era todo esse, o trajeto do Joaquim Távora, pois o ponto final da linha era em frente do casarão do Sr. Alberto Costa Sousa, respeitável cidadão de fino trato, muita religiosidade e um dos diretores do antigo Banco Frota Gentil S/A.
Entretanto, desde o Centro da Cidade, a Avenida Joaquim Távora tinha abrangência com os Bairros José Bonifácio, Fátima e adjacências, interligando-se com os bairros de São João de Tauape, Alto da Balança, Aerolândia. E por uma estrada estreita, margeando o rio Cocó com suas águas perenes onde predominava uma vegetação que transpirava o perfume de mata-pasto. de manjerioba, chanana, melão caetano, quebra-pedra, pega-pinto e outros arbustos e ervas que exalavam agradável perfume que envolvia a retentiva dando ao olfato o sabor a contemplar com a visão do lugar vivido na essência do seu puro cheiro - de terra orvalhada; chegava-se a Messejana.

Bonde próximo ao Cine Majestic

Mas deixemos de lado as dilacerantes saudades que, sem avisar nem pedir permissão, invadem ocupando todas as dependências da nossa mente e, de repente, sem agradecer se vão; deixando indelevelmente gravada a figura de um inesquecível panorama a confortar o coração combalido pelo tempo. Mas como as saudades não matam, apenas maltratam, matemo-las.
Ao toque repicado da sineta, o motorneiro dava partida no bonde, assim saía o bonde Joaquim Távora da Praça do Ferreira pela Rua Major Facundo, entrava a esquerda na Rua Pedro I, continuava até ultrapassar as ruas Floriano Peixoto, Assunção, General Bizerril - lado norte, à direita lado sul, rua Solon Pinheiro, contornando o Parque da Cidade da Criança; passava em frente ao Colégio São José do Prof. José Leopoldino da Silva, também professor do Liceu, bem como seu filho José Leopoldino da Silva Filho - Engenheiro Agrônomo e Professor. Depois de alcançar as ruas Pinto Madeira, Pero Coelho e ultrapassar a Av. Duque de Caxias - Heráclito Graça - iniciava a Av. Joaquim Távora - hoje Visconde do Rio Branco - antiga Estrada de Messejana, como era no século passado conhecida - até o número 2.800 - residência do Sr. Alberto Costa Sousa.
Nosso passageiro ilustre do bonde Joaquim Távora, hoje Av. Visconde do Rio Branco e, à sua época Estrada de Messejana, nasceu na aprazível vivenda da família Caracas, de no 736, depois de no 2.008, e é o nosso muito estimado primo, o engenheiro José Euclydes Caracas - filho do professor Francisco Dias da Rocha e D. Leopoldina Caracas. Avós maternos: capitão Pacífico da Costa Caracas, abastado agricultor na serra de Baturité, de grande descortino econômico, fundador da família Caracas, e Ana Felícia de Lima Caracas. Avós paternos: Joaquim Dias da Rocha, negociante português e abolicionista, pertenceu ao partido Libertador - da Sociedade Cearense Libertadora - e entidade Perseverança e Porvir, e D. Francisca de Paula Cavalcanti (solteira), após o casamento Francisca de Paula Dias da Rocha.
Nasceu no dia 22 de maio de 1900 em Fortaleza, na vivenda no 736, do Calçamento Messejana, depois Avenida Joaquim Távora no 2.008 - hoje Avenida Visconde do Rio Branco, vizinho ao Colégio das Dorothéias, local hoje desapropriado pela Prefeitura Municipal para alargamento da Rua Domingos Olímpio.
O ilustre Dr. José Euclydes Caracas, após concluir os preparatórios no Colégio São Vicente de Paula - em Petrópolis, formou-se em engenharia civil pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro em 1925. Trabalhou na construção da Estrada de Ferro Centro-Oeste de Minas, em 1931; passou a integrar o quadro de engenheiros do Departamento de Portos, Rios e Canais, com elevado cargo de chefia; membro do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura - CREA - CE; conselheiro na implantação do Plano Rodoviário do Estado do Ceará; membro da Delegacia do Trabalho Marítimo, credenciado pelo antigo I.A.P.C.. Desempenhou suas funções como engenheiro no acababamento das obras de construção do Edifício São Luís.
Casou com Ana Gouveia Mota, filha de José Porfírio da Mota, Fiscal de Consumo na região Norte do Ceará e de Francisca Barros de Gouveia - todos da cidade de Granja-CE. São seus filhos: Hélio Mota Caracas, engenheiro pela Universidade de Fortaleza, e Heliana Mota Caracas, tendo exercido funções na Companhia Docas do Ceará, ambos com muita projeção na sociedade local.

A foto é de 1936 e pela Rua Major Facundo vemos, por trás do bonde elétrico, a Casa Almeida, o edifício Majestic que tinha um bar, a Farmácia Pasteur, os escritórios de Luiz Severiano Ribeiro, o "Polytheama", o Menescal e na esquina, A Pernambucana. Em frente, o passeio, onde ficavam estacionados os ônibus, os carros de aluguel e onde havia os bancos de duas faces entre árvores e combustores de iluminação a gás.

Ary Bezerra Leite - em História da Energia no Ceará, no capítulo - Os bondes a burro, diz:

“O sonho dos bondes a serviço da população de Fortaleza parecia quase impossível. E, mais uma vez a concessão é transferida pela Lei no 1.631, de 5 de setembro de 1875, agora favorecendo o comendador Francisco Coelho da Fonseca e Alfredo Henrique Garcia. Finalmente, a 3 de fevereiro de 1877, esses concessionários fundam a Empresa Ferro-Carril do Ceará.
Da instalação da empresa para o aparecimento em operação dos bondes transcorreram três anos. Isto porque somente em 1879 são concretizadas as obras civis de construção da estação e sede da companhia, e, a partir de novembro, cumprida a etapa de assentamento dos trilhos, com bitola de 1,40m, que ainda eram de madeira revestida na parte superior por cantoneiras de ferro.
Na manhã do domingo 25 de abril de 1880, a Ferro-Carril do Ceará inaugura sua primeira linha, com 4.210 metros, da Estação na estrada de Messejana (Boulevard Visconde do Rio Branco) à chave na Rua São Bernardo (atual Pedro Pereira), e, a partir desta, interligando a Praça da Assembléia ao matadouro modelo (bairro do Prado).”

Agora, estimados leitores, estamos chegando ao término dos nossos passeios de bonde por esta Fortaleza de antigamente com tantas recordações que ainda permanecem vivas em nós. Com o próximo capítulo sobre os bondes teremos a linha do Prado, e concluiremos nossas reminiscências por esta cidade que nos viu nascer, crescer e, se me for dado a escolha, espero com a morte deitar meu corpo ao solo, a cabeça, ter como travesseiro a pura argila de minha terra natal, deixando-me transformar em pó “porque tu és pó e em pó te tornarás”, e merecer de Deus o perdão e a Mansão dos Justos.

Bonde na Praça do Ferreira - Anos 30

Zenilo Almada
Advogado



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Crédito: Artigo publicado no Diário do Nordeste - Fortaleza.
Ceará - Domingo, 20 de julho de 2003 e fotos Fortal

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